Eu e Luiz estamos viciados numa novela coreana que fez o maior sucesso nos países de língua asiáticas. Chamada Dae Jang Geum, ou Jewel in the Palace em inglês, ela conta a história verídica da primeira mulher a se tornar médica real no século XV. Além de todo o melodrama que eu adoro, o que é mais fascinante nessa novela são as demonstrações culinárias – sim, porque Jang Geum começa como ajudante da cozinha real e ali aprende não somente a cozinhar pratos maravilhosos como também conhece o poder de cura dos alimentos, parte importante da medicina oriental.
Em cada capítulo há cenas longas dedicadas a mostrar em detalhes a preparação das comidas, a busca pelos melhores ingredientes, os banquetes reais. Além disso, grande parte do drama é diretamente relacionado à comida – será que o Rei vai gostar do pato preparado pela mestra de Jang Geum, ou vai preferir a sopa exótica oferecida por sua arqui-inimiga? O embate entre essas duas personagens, aliás, encarna muitas das discussões que vemos sobre alimentação e saúde hoje em dia. Ficamos vidrados na televisão e sempre terminamos morrendo de fome.
Semana passada, coincidentemente, fomos convidados a jantar num restaurante coreano. Não havia ali, naturalmente, nada que nos fizesse lembrar imediatamente da novela: o ambiente simples e meio sujo dizia claramente que estávamos num fast-food joint de Montreal dos anos 2000, e não na cozinha real coreana dos 1400. Aos poucos, porém, fomos nos sentindo mais no clima, especialmente quando vimos que toda comida é fresca e preparada na hora com a mesma paixão.
O prato que pedimos é a especialidade da casa, e um dos mais populares da cozinha coreana: Bul go gi, também conhecido como churrasco coreano. Trata-se de fatias de carne cortadas bem fininhas e marinadas com molho shoyo e outros ingredientes picantes, depois colocadas numa espécie de chapa instalada diretamente sobre a mesa. Comemos carne, frango e porco, cada um tinha um tempero e uma intensidade diferentes.